Babélgica

Acredito que todos nós já ouvimos falar da Torre de Babel, certo? Caso não lembrem, versão resumida: a galera queria fazer uma torre para chegar até o céu, Deus não gostou da ideia e acabou com a brincadeira. Ele fez com que os povos não se entendessem mais – é, todo mundo falava a mesma língua – e espalhou geral pelo mundo. Fim.

Acho que alguns lugares deram mais sorte, com maiores concentrações de gente falando a mesma língua, e outros deram muito azar, como a Bélgica, que acabou com três idiomas em um espaço de terra muito pequeno. Como eu já contei para vocês, aqui se fala holandês, francês e alemão. Eu apelidei carinhosamente o país de Babélgica.

Os belgas tentaram lidar com essa confusão da melhor forma possível, mas acho que ainda ficou confuso. Podemos pensar que a Bélgica possui duas regiões bem distintas: Flandres e Valônia. Os Flanders ficam no norte da Bélgica e a língua oficial é o holandês. A Valônia fica ao sul e se fala francês. Além disso, o país é dividido em 10 províncias. Cinco para cada região, para ninguém ficar com ciúme.

Agora vamos complicar um pouco. Oficialmente o país tem três regiões autônomas: Flandres, Valônia e Bruxelas. Bruxelas, no entanto, fica dentro dos Flandres, e é a capital dessa região e do país. Se levarmos em conta a localização, seria certo assumir que lá se fala holandês, mas Bruxelas é bilíngue. E para complicar mais um pouquinho, 70% dos moradores falam francês. Prometo contar pra vocês quando eu descobrir o motivo desse nonsense.

E o alemão?! Sim, perceba que ninguém dá muita bola para o alemão. O idioma só é falado em uma província da Valônia, Liège. Parece que os pobres coitados não foram vítimas da história da Torre de Babel, mas da Segunda Guerra. A Alemanha teve que ceder um pedacinho das suas terras para a Bélgica, mas o povo não quis ceder no idioma.

Recapitulando: o país tem três regiões autônomas – Flandres, Valônia e Bruxelas. Elas são responsáveis por questões administrativas e econômicas. Porém, a bagunça variedade de idiomas exigiu que os grupos linguísticos também fossem autônomos. Eles são chamados de Comunidades e lidam com questões culturais e educacionais.

Quando a Bélgica se tornou independente (1830), o único idioma oficial era o francês. O holandês só foi reconhecido em 1898. Adivinhe de quem foi a ideia de criar as Comunidades linguísticas!? Dos flamengos (Flandres/holandês), claro! Então, depois de tanta sofrência, eu quase entendo que o povo daqui queira manter o seu idioma a todo custo. Na prática, isso explica porque eu senti resistência das pessoas a falar inglês comigo. Já entendi o recado, tô estudando a língua de vocês!

Outro fato que não chega a ser uma surpresa é a síndrome deles de “república Juliana”. Eu acho uma besteira sem fim a história do “sul é o meu país”, mas aqui até que eles têm argumentos justos. Culturalmente e linguisticamente falando, faria muito sentido que os Flandres pertencessem à Holanda e a Valônia à França – mas os belgas não gostam dos holandeses, ops! Mass, como eles não querem pertencer a nenhum outro país e eu nenhuma das duas regiões têm tamanho para ser país sozinho, acho bom eles sossegarem. Pelo menos parece que os jovens não foram contagiados pelo separatismo ainda.

Quanta informação para um país que os brasileiros quase nem lembram que existe, uh! Prometo que da próxima vez irei falar de algum assunto bem leve e de fácil absorção cerebral. Tipo.. cerveja! 😛

4 comentários sobre “Babélgica

  1. Confuso. Historicamente explicável, mas ainda confuso. A gente vê o separatismo em doses diferentes pelo mundo, e é bem triste. Que bom que os jovens não pensam dessa maneira, dá mais possibilidade para o presente/futuro e mais felicidade para conviver.

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    • verdade! quando o meu pai leu o texto ele lembrou do ETA, que é um nível muitooo doida da mesma coisa né. Acho que aqui vai existir sempre essa separação, mas pelo menos eles parecem ter aprendido a viver bem com isso. Aí tá bom né.. 🙂

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